terça-feira, 28 de agosto de 2012

UM PONTO FIXO OU A FIXAÇÃO DE UM PONTO

Uma pequena reflexão sobre a oficina que ministramos em Guaçuí/ES, no XIII Festival Nacional de Teatro.
Creio que concordamos que, dentro da metodologia de ensino das artes da animação teatral, o estudo do comumente chamado 'ponto fixo', constitui-se de primordial importância tanto para os principiantes quanto para os 'iniciados'. Conhecimento basilar, a determinação fictícia de um espaço inalterável localizado num ponto qualquer do espaço propõe um difícil exercício para o ator. Por isso, então, a necessidade de um constante treinamento corporal.
Na oficina que ministramos, surgiu uma definição deliciosa acerca do ponto fixo: um ponto fixo é a soma da imaginação do ator com a investigação que este faz do movimento de seu corpo, para presentificar este espaço estável, fixo e fictício. Com certeza, antes de tudo é preciso imaginar onde está o danado do 'ponto', o local, a parte, o objeto que será 'congelado', ou seja, 'fixado'. Por isso, concordo com Claire Heggen quando ela se refere à 'fixação de um ponto'. Ora, sabemos que é impossível mantermos um estado de imobilidade num corpo alheio tanto quanto simular com nosso corpo a existência desse espaço fixo. Mas aqui, ao falar de treinamento para a fixação de um ponto, referimo-nos à acurácia na realização de um objetivo, mesmo que estejamos perseguindo um ideal. Buscar atingir o ideal de imobilidade é como construir castelos de areia na beira do mar. É um estado efêmero e passageiro. Mas, deve durar o tempo suficiente para fornecer  uma nova percepção do espaço pelo espectador. Assim, a imaginação do ator deve poder visualizar e fixar o ponto através de seu olhar. O corpo, a seguir, irá re-configurar seu sistema de mobilidade, fazendo um uso especial, não-cotidiano, das relações de tensão e relaxamento muscular.
Os exercícios com bastões que utilizamos produzem excelentes resultados, a curto prazo, para este aprendizado e treinamento.

Um comentário:

  1. De fato Paulo, esse "ponto fixado" esteve presente em nossas práticas e foi recorrente em nossas discussões. Lembro-me de outra noção com a qual lidamos bastante, que foi a de atenção. A primeira boa discussão surgiu num comentário feito por Carol no 1o. dia, sobre o fato de que a atenção não pode estar "endurecida", para que estejamos disponíveis a relacionarmo-nos com os estímulos produzidos na cena, e funcionarmos em legítima integração. Lembrei-me do conceito de "soft focus" da Anne Bogart, e somei a isso a questão de como o olhar orienta as enfases da cena e é ferramenta essencial na construção da cena animada, sobretudo com animadores aparentes. Fico pensando se não seria um componente da técnica da animação aparente a combinação eficiente de focos "suaves" e "duros". Explico-me: ao ator de animação é fundamental a disposição de funcionar em integração com a dinâmica da cena, do grupo e dos materiais. Para isso é preciso que a sua atenção esteja ampliada e o seu corpo disponível. No entanto, é fundamental que a sua postura corporal e o direcionamento do olhar (quando visível) encaminhe estritamente para as ênfases da cena (que pode ser o boneco ou não, de acordo com a obra ou o momento em questão).

    Ah: passa a referência da Claire Heggen que eu falo mais da Anne Bogart.
    abraços!

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